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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Lisetta de Brás, Bexiga e Barra Funda

Lisetta é sem dúvida uma das crônicas que considero de maior valor literário já escrita.

Da coletânea de contos ''Brás, Bexiga e Barra Funda'' do escritor brasileiro Antônio de Alcântara Machado, publicado pela primeira vez em 1927, na fase modernismo, retrata a doce estória de uma menina com sua mãe numa cena cotidiana do centro de São Paulo.

Um dos matizes mais belos desse livro é a forma como o autor retrata São Paulo do início do século XX na época da imigração européia e, majoritariamente italiana, com seus personagens tipificados e cenas corriqueiras da cidade que crescia e se modernizava.

Antônio Castilho de Alcântara Machado d'Oliveira nasceu em São Paulo em 25 de maio de 1901 e falesceu na cidade do Rio de Janeiro em 14 de abril de 1935, e foi um jornalista, político e escritor brasileiro. Apesar de não ter participado da Semana de 1922, Alcântara Machado escreveu diversos contos e crônicas modernistas.



Lisetta

Quando Lisetta subiu no bonde (o condutor ajudou) viu logo o urso. Felpudo, felpudo. E amarelo. Tão engraçadinho.

Dona Mariana sentou-se, colocou a filha em pé diante dela.

Lisetta começou a namorar o bicho. Pôs o pirulito de abacaxi na boca. Pôs mas não chupou. Olhava o urso. O urso não ligava. Seus olhinhos de vidro não diziam absolutamente nada. No colo da menina de pulseira de ouro e meias de seda parecia um urso importante e feliz.

- Olha o ursinho que lindo, mamãe!

- Stai zitta!

A menina rica viu o enlevo e a inveja da Lisetta. E deu de brincar com o urso. Mexeu-lhe com o toquinho do rabo: e a cabeça do bicho virou para a esquerda, depois para a direita, olhou para cima, depois para baixo. Lisetta acompanhava a manobra. Sorrindo fascinada. E com um ardor nos olhos! O pirulito perdeu definitivamente toda a importância.

Agora são as pernas que sobem e descem, cumprimentam, se cruzam, batem umas nas outras.

- As patas também mexem, mamã. Olha lá!

- Stai ferma!

Lisetta sentia um desejo louco de tocar no ursinho. Jeitosamente procurou alcançá-lo. A menina rica percebeu, encarou a coitada com raiva, fez uma careta horrível e apertou contra o peito o bichinho que custara cinqüenta mil-réis na Casa São Nicolau.

- Deixa pegar um pouquinho, um pouquinho só nele, deixa?

- Ah!

- Scusi, senhora. Desculpe por favor. A senhora sabe, essas crianças são muito levadas. Scusi. Desculpe.

A mãe da menina rica não respondeu. Ajeitou o chapeuzinho da filha, sorriu para o bicho, fez uma carícia na cabeça dele, abriu a bolsa e olhou o espelho.

Dona Mariana, escarlate de vergonha, murmurou no ouvido da filha:

- In casa me lo pagherai!

E pespegou por conta um beliscão no bracinho magro. Um beliscão daqueles.

Lisetta então perdeu toda a compostura de uma vez. Chorou. Soluçou. Chorou. Soluçou. Falando sempre.

- Hã! Hã! Hã! Hã! Eu que...ro o ur...so! O ur...so! Ai, mamãe! Ai, mamãe! Eu que...ro o... o... o... Hã! Hã!

- Stai ferina o ti amazzo, parola d'onore!

- Um pou...qui...nho só! Hã! E... hã! E... hã! Um pou...qui...

- Senti, Lisetta. Non ti porterò più in città! Mai più!

Um escândalo. E logo no banco da frente. O bonde inteiro testemunhou o feio que Lisetta fez.

O urso recomeçou a mexer com a cabeça. Da esquerda para a direita, para cima e para baixo.

- Non piangere più adesso!

Impossível.

O urso lá se fora nos braços da dona. E a dona só de má, antes de entrar no palacete estilo empreiteiro português, voltou-se e agitou no ar O bichinho. Para Lisetta ver. E Lisetta viu.

Dem-dem! O bonde deu um solavanco, sacudiu os passageiros, deslizou, rolou, seguiu. Dem-dem!

- Olha à direita!

Lisetta como compensação quis sentar-se no banco. Dona Mariana (havia pago uma passagem só) opôs-se com energia e outro beliscão.


A entrada de Lisetta em casa marcou época na história dramática da família Garbone.

Logo na porta um safanão. Depois um tabefe, Outro no corredor. Intervalo de dois minutos. Foi então a vez das chineladas. Para remate. Que não acabava mais.

O resto da gurizada (narizes escorrendo, pernas arranhadas, suspensórios de barbante) reunido na sala de jantar sapeava de longe.

Mas o Ugo chegou da oficina.

- Você assim machuca a menina, mamãe! Cotadinha dela!

Também Lisetta já não agüentava mais.


- Toma pra você. Mas não escache.

Lisetta deu um pulo de contente. Pequerrucho. Pequerrucho e de lata. Do tamanho de um passarinho. Mas urso.

Os irmãos chegaram-se para admirar. O Pasqualino quis logo pegar no bichinho. Quis mesmo tomá-lo à força. Lisetta berrou como uma desesperada:

- Ele é meu! O Ugo me deu!

Correu para o quarto. Fechou-se por dentro.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Grupo de Estudos em Moda e Design, do ateliê Karlla Girotto.


A estilista Karlla Girotto está formando um grupo de estudos com até 10 participantes que visa a ampliação de repertório estético e conceitual, buscando afirmação de singularidades. O objetivo do curso é proporcionar experiências práticas e reflexões que ofereçam ao participante novas referências para a criação em moda e design. Amplamente baseado em textos, vídeos e exercícios, as dinâmicas demonstram as semelhanças entre as linguagens criativas. Como produto final, será desenvolvido um projeto que reflita a metodologia de trabalho proposta no curso.




Proposta:

• Elaboração de novos significados para o criar e desenhar.
• Entendimento das novas linhas de pesquisa que se apresentam como material de expressão.
• Ampliar a noção de referência estética, pesquisa e criação.
• Entendimento dos aspectos materiais (cores, formas, texturas) como um desdobramento natural da cartografia elaborada. Sair para a pesquisa de rua com a sensação ativada (e não o olhar).
• Delinear um como e um porquê para os itens coletados e entender as relações existentes entre as cartografias subjetivas e a materialidade real e objetiva.
• Identificação das escolhas estéticas e projeção das idéias e sensações em forma de mapas de trabalho.
• Entender as propostas de repertório apresentadas e dialogar em grupo sobre as novas relações de compartilhamento.
• Discussão sobre o papel do designer e os aspectos de criação a ele atribuídos.
• Trabalhar para apresentação do projeto final.
• Apresentar ao grupo e abrir para discussão os desenvolvimentos individuais.
• Misto de aula prática com aula teórica;

O curso tem duração de 14 aulas, que vão de setembro a dezembro, às quintas-feiras das 19 às 22:30hs no ateliê Karlla Girotto em Perdizes.
A mensalidade tem o investimento de R$ 380,00 e o curso é direcionado aos profissionais da área de design e de moda que desejam reciclar, reelaborar e resignificar seu repertório de informações para criação em suas diversas linguagens. Estudantes de moda, artes, design e também aos interessados em geração de novas ideias.
Como material, será utilizado caderno de anotações e de desenhos.

Clique aqui para participar.

Clique aqui para acessar a página de Karlla Girotto


sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Almeida Garret inicia o Romantismo Português do Século XIX


(Passos Manuel, Almeida Garrett, Alexandre Herculano e José Estevão de Magalhães)




































           
João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett nasceu na cidade do Porto em 4 de fevereiro de 1799 e faleceu em Lisboa em 9 de dezembro de 1854, e foi um grande escritor romântico, dramaturgo, e político, resumindo... É até hoje uma figura de imensa notabilidade de Portugal.

Por ter participado da revolução liberal de 1820, foi em exílio para a Inglaterra em 1823, e foi lá que teve o primeiro contato com o movimento romântico, descobrindo Shakespeare, Walter Scott e outros autores, visitando castelos feudais e ruínas de igrejas góticas, que se refletiriam na sua obra posterior.

Os primeiros anos do século XIX foram muito conturbados para Portugal. A fuga da família real para o Brasil em 1807, devido às invasão francesa de Napoleão Bonaparte, posterior domínio inglês, revolução liberal em 1820, retorno da família real em 1821 mais absolutista que nunca, independência do Brasil, a perda do comércio colonial com a antiga colónia em 1822, etc...

Este foi o cenário propício para o surgimento de um novo pensamento ideológico e artístico em Portugal e que concomitantemente já pairava por toda a Europa devido à semelhantes ocorrências.

Daí o escapismo e a idealização de quem quer fugir deste contexto pessimista e angustiante, refugiando-se no egocentrismo de seu universo subjetivo.

Com isso tudo então, Almeida Garret foi para a França em 1825, e nessa viagem escreveu o poema ''Camões'' considerado como a primeira obra da literatura romântica em Portugal.

''Camões'' ilustra fatos da vida de Luís de Camões relacionados com a elaboração e publicação da epopeia ''Os Lusíadas''.