Por mais que a África careça de literatura escrita, existe um vastíssimo e rico universo de tradição oral, que ainda hoje é pouco explorado pelo mundo.
Conseguimos obter uma visão crítica sobre questões como geografia, história, cultura, política e sociedade do continente africano, devido suas relações com suas respectivas metrópoles, a luta pela liberdade de por seu território expressas em seus poemas e obras.
Iremos então, analisar agora um poema de António Silva Graça, que nasceu em Moçambique em 1937 e foi para Lisboa aos dezoito anos ingressar na Faculdade de Medicina.
Nos anos sessenta participou, no movimento associativo. Concluída a licenciatura viu-se impossibilitado de seguir a carreira hospitalar ou universitária por razões políticas.
GRAÇA, António Silva. Invenção da sombra. Lisboa: Relógio D ́Água Editores, 1989. 60 p. Col. A.M.
INVENÇÃO NA SOMBRA
Como posso definir-te? A
Uma luz lógica B
transforma o teu limiie A
numa fronteira inútil. C
Só uma ciência incerta B
é capaz de descobrir-te. A
De morder o teu perfil. C
De possuir-te inteira. B
O rigor desta ciência B
enche-me de conceitos. D
De preconceitos cegos. D
Ao tocar-te, perco-te. A
Depois, invento-te na sombra. B
Este poema foi escrito em versos livres e sem rimas, com o uso de metáforas, hipérboles, e sinestesias... e fala da impossibilidade de se delimitar o que não se sabe ao certo que é; alguém ou algo, mas que é inegavelmente do interesse do eu-lírico.
Os trechos que denunciam isso são:
‘’Como posso definir-te?’’
‘’Só uma ciência incerta é capaz de descobrir-te.’’
‘’Ao tocar-te, perco-te.
Depois, invento-te na sombra.’’
Não nos são claros os elementos da cultura africana de língua portuguesa no poema, contudo ao que tudo indica, o mesmo pode referir-se à liberdade, tema corriqueiro entre a tradição oral destes países afro-lusófonos.
A tradição oral africana em língua portuguesa também é amplamente difundida no Brasil, uma vez que aqui tivemos muitos negros vindos como escravos e que nos passaram isso.
Um dos artistas que nos recontam essas estórias e cultura é Dorival Caymmi (Salvador, 30 de abril de 1914 – Rio de Janeiro, 16 de agosto de 2008) que foi um cantor, compositor, violonista, pintor e ator brasileiro, que compunha inspirado pelos hábitos, costumes e as tradições do povo baiano, e tinha portanto, forte influência da cultura negra, o que ocorre com todo brasileiro que nasceu ou morou na Bahia.
Alguns títulos exprimem muito bem isso, como ‘’O Dengo que a Nega Tem, Rosa Morena’’, entre outros...
é dengo, é dengo, é dengo, meu bem
É dengo que nega tem
Tem dengo no remelexo, meu bem
Tem dengo no falar também
Quando se diz que no falar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no andar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no sorrir tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no sambar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
É dengo, é dengo, é dengo, meu bem
É dengo que nega tem
Tem dengo no remelexo, meu bem
Tem dengo no falar também
Quando se diz que no bulir tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no cantar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
Quando se diz que no olhar tem dengo
Tem dengo, tem dengo, tem dengo tem
É no mexido, é no descanso, é no balanço
É no jeitinho requebrado que essa nega tem
Que todo mundo fica enfeitiçado
E atrás do dengo dessa nega todo mundo vem
E atrás do dengo dessa nega todo mundo vem
A mãe, dona de casa, mestiça de portugueses e africanos, cantava no lar. Portanto nada melhor que ele para nos transmitir um pouco mais desta cultura extraordinária e pouco explorada e valorizada.
Com base no material estudado acima, montei uma sequência didática com ferramenta de efetivação da Lei nº 10.639/03, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.
Assunto – Literatura Africana
Tempo necessário: Aproximadamente 4 aulas
A literatura deve ser ensinada desde as séries iniciais, para que o aluno entenda os elementos socioculturais de cada país.
Material - Diferentes tipos de textos pertinentes à série,.
Escolher em qual aspecto da literatura (cultural, poética, prosa, informativa) o aluno focará a atenção.
Lousa, giz, papéis, canetas, etc...
O que importa é apresentar questões pertinentes nas situações didáticas, fazendo com que a turma reflita e avance.
Objetivos
Com esta atividade o aluno deve ser capaz de:
1 Construir um comportamento crítico em relação a seu próprio texto e ao dos outros;
2 Desenvolver a capacidade de argumentação;
3 Desenvolver o interesse em colaborar com a causa
Organização e atividade da sala
Em pequenos grupos - duplas ou trios - para realização da atividade de escrita.
É pedido aos alunos para marcar as partes que julgarem mais importantes para a questão.
Socialize para todos os grupos as diversas possibilidades apresentadas
Avaliação
Durante o desenvolvimento da atividade, é possível avaliar como o aluno:
Utiliza seus conhecimentos de produção escrita, os conhecimentos que constrói a
respeito da literatura/leitura, especificamente.
Usa seus conhecimentos diante do texto para analisá-lo a fim de atribuir
significado a ele.
Como argumenta para defender o seu ponto de vista.
Como colabora com o grupo
Aprofundamento do conteúdo
Seriam aplicados exercícios de fixação, como resenhas ou questionários.