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quarta-feira, 19 de março de 2014

Exposição Iconos de Adriana Duque na Zipper Galeria

Compareci ontem à abertura da exposição Iconos de Adriana Duque.
O projeto fotográfico da artista promove uma íntima relação com a história da pintura, mais especificamente a pintura holandesa do periodo Barroco.
Duque remete aos movimentos de vanguarda européia do início do século XX que buscam medir na fotografia sua autonomia como linguagem, separando-as da pintura acadêmica tradicional, e enfatizando o impacto visual que surge do contraste entre ambas linguagens.
Retrata seu próprio universo subjetivo e infantil em luzes e cores, em fantasias de princesa, sonhos, lembranças e até frustrações, na dimensão de uma performance, de um gesto que deve ser vivido organicamente.
Suas Marias possuem os fones de ouvido que tapam-lhes os ouvidos, conferem garantia de isolamento, como forma de negar a presença, de manter o outro afastado. Ao conectar esse comportamento contemporâneo do uso dos fones de ouvido em espaços públicos com a aura de impavidez e isolamento natural das infantes, Duque cria quadros de grande simbolismo e reflexões.
As crianças fotografadas por Adriana Duque são quase-pintura, onde a luz é calculada, as roupas são confeccionadas especialmente para a foto, e os olhos azuis das crianças adicionados na pós-produção digital, nos encantam pela mágica, por serem imagens fieis a algo real.
''Adriana exacerba a manipulação de nossa crença perante a imagem. Suas lindas crianças vestem-se como pequenos monarcas, reinam em um cenário de veludo e brocados, adornam-se com uma coroa que se parece com um fone de ouvido, trazendo-as para a contemporaneidade apesar da atmosfera barroca.
Ao citar o século 17 nos contrastes de claro e escuro e na rica ornamentação das vestes e mobílias, Duque nos coloca também em contato com a história da arte latino-americana, que violentamente viu a arte nativa ser substituída pela arte então em vigor na Espanha. 
As crianças das fotografias podem ser um retrato de uma arte ainda na infância, que tenta crescer mas mantém-se ligada a um começo artificialmente barroco, que a criança traveste sem questionar, com fones de ouvido que abafam qualquer som crítico, e as mantém olhando para a câmera, sem que vejam, ao fundo, o interior genuíno, simples, de uma casa real.''
Adriana Duque nasceu em Manizales, Colombia em 1968
Vive e trabalha em Bogotá, ColômbiaÉ Formada em Artes Plásticas pela Universidad de Caldas, Manizales, Colômbia.
De 18 de março a 12 de abril de 2014


Seg. a sex: das 10 às 19
Sábado: das 11 às 17
Zipper Galeria
Rua Estados Unidos, 1494 - Jardim América
(11) 4306 4306



Clique aqui para acessar o site da Zipper Galeria

sexta-feira, 14 de março de 2014

Cântico das Criaturas

O Cântico das Criaturas (Laudes Creaturarum), também conhecido como Cântico do Irmão Sol (Cantico di Frate Sole) é uma canção religiosa cristã composta por Francisco de Assis. 

É uma das primeiras obras escritas no idioma italiano, mas precisamente no dialeto úmbrio.
O Cântico das Criaturas louva Deus agradecendo-o por criações como os animais e aos irmãos e irmãs da Humanidade, o irmão Sol, a irmã Lua.



São Francisco rejeitava qualquer tipo de acúmulo material e confortos sensuais, era bondoso com os pobres e amante da natureza. 

Teria composto a maior parte do cântico no fim de 1224, enquanto se recuperava de uma doença em San Damiano, uma pequena cabana construída para ele por Clara de Assis e outras mulheres pertencentes à sua ordem. 

Texto original 

Altissimu, onnipotente bon Signore,
Tue so' le laude, la gloria e l'honore et onne benedictione.
Ad Te solo, Altissimo, se konfano,
et nullu homo ène dignu te mentovare.
Laudato sie, mi' Signore cum tucte le Tue creature,
spetialmente messor lo frate Sole,
lo qual è iorno, et allumeni noi per lui.
Et ellu è bellu e radiante cum grande splendore:
de Te, Altissimo, porta significatione.
Laudato si', mi Signore, per sora Luna e le stelle:
in celu l'ài formate clarite et pretiose et belle.
Laudato si', mi' Signore, per frate Vento
et per aere et nubilo et sereno et onne tempo,
per lo quale, a le Tue creature dài sustentamento.
Laudato si', mi' Signore, per sor Aqua,
la quale è multo utile et humile et pretiosa et casta.
Laudato si', mi Signore, per frate Focu,
per lo quale ennallumini la nocte:
ed ello è bello et iocundo et robustoso et forte.
Laudato si', mi' Signore, per sora nostra matre Terra,
la quale ne sustenta et governa,
et produce diversi fructi con coloriti flori et herba.
Laudato si', mi Signore, per quelli che perdonano per lo Tuo amore
et sostengono infirmitate et tribulatione.
Beati quelli ke 'l sosterranno in pace,
ka da Te, Altissimo, sirano incoronati.
Laudato si' mi Signore, per sora nostra Morte corporale,
da la quale nullu homo vivente po' skappare:
guai a quelli ke morrano ne le peccata mortali;
beati quelli ke trovarà ne le Tue sanctissime voluntati,
ka la morte secunda no 'l farrà male.
Laudate et benedicete mi Signore et rengratiate
e serviateli cum grande humilitate…


Tradução em português


Altíssimo, omnipotente, bom Senhor,
a ti o louvor, a glória, a honra e toda a bênção.
A ti só, Altíssimo, se hão-de prestar
e nenhum homem é digno de te nomear.
Louvado sejas, ó meu Senhor, com todas as tuas criaturas,
especialmente o meu senhor irmão Sol,
o qual faz o dia e por ele nos alumias.
E ele é belo e radiante, com grande esplendor:
de ti, Altíssimo, nos dá ele a imagem.
Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã Lua e as Estrelas:
no céu as acendeste, claras, e preciosas e belas.
Louvado sejas, ó meu Senhor, pelo irmão Vento
e pelo Ar, e Nuvens, e Sereno, e todo o tempo,
por quem dás às tuas criaturas o sustento.
Louvado sejas, ó meu Senhor, pela irmã Água,
que é tão útil e humilde, e preciosa e casta.
Louvado sejas, ó meu Senhor, pelo irmão Fogo,
pelo qual alumias a noite:
e ele é belo, e jucundo, e robusto e forte.
Louvado sejas, ó meu Senhor, pela nossa irmã a mãe Terra,
que nos sustenta e governa, e produz variados frutos,
com flores coloridas, e verduras.
Louvado sejas, ó meu Senhor, por aqueles que perdoam por teu amor
e suportam enfermidades e tribulações.
Bem-aventurados aqueles que as suportam em paz,
pois por ti, Altíssimo, serão coroados.
Louvado sejas, ó meu Senhor, por nossa irmã a Morte corporal,
à qual nenhum homem vivente pode escapar:
Ai daqueles que morrem em pecado mortal!
Bem-aventurados aqueles que cumpriram a tua santíssima vontade,
porque a segunda morte não lhes fará mal.
Louvai e bendizei a meu Senhor, e dai-lhe graças
e servi-o com grande humildade…


Clique aqui para ouvir uma bela canção inspirada na vida de São Francisco

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Uma visão sobre a Análise do Discurso

Inspirada pela obra de Luis Felipe Rosado, ''Uma proposta de interface entre dois domínios da análise de discurso: a linha francesa e a sua relação com a teoria crítica do discurso.''

A Análise do Discurso na França é caracterizada por um trabalho mais teórico­ e abstrato. Já a Análise do Discurso anglo­saxã, tem um caráter mais empirista.

Norman Fairclough apropria-se da Lingüística e da Sociolingüística em sua concepção em contrapartida aos teóricos franceses PêcheuxFoucault entre outros...

Norman Fairclough à esquerda e seu amigo, Teun A. van Dijk

Ao propor a sua teoria social do discurso, Fairclough está assumindo um certo distanciamento em relação a Saussure, e ao que ele chama de abordagem estruturalista do analista de discurso francês, Michel Pêcheux

Ao usar o termo ''discurso'', nos diz Fairclough,

''proponho considerar o uso da linguagem como forma de prática social e não como atividade puramente individual ou reflexo de variáveis situacionais'' (FAIRCLOUGH, 1994).

Na ACD há necessidade do sujeito em uma posição fundamental para todo o processo de análise discursiva. O anti­humanismo dos teóricos pós­estruturalistas, encontra o seu oposto, em algumas dimensões da proposta de Fairclough: o mundo é constituído pela atribuição de sentido que os atores sociais lhe impõem. Sem a interação subjetiva, a intenção dos sujeitos e a atribuição de sentido aos objetos, não existem condições para explicar o processo de produção do discurso e dos sentidos. 





A AD do pós­estruturalista Pêcheux trata a prática discursiva e o evento discursivo como meros exemplos de estruturas discursivas, que são elas próprias representadas como unitárias e fixas. Considera a prática discursiva em termos de um modelo de causalidade mecânica.

Não abre espaço para tratar dos eventos sociais cotidianos, da produção de sentido intersubjetiva, sem fazer remissões a processos estruturais mais amplos.

Num diálogo entre as duas modalidades pode-se dizer que o acontecimento discursivo apresenta práticas discursivas e não­ discursivas motivadas estruturalmente, mas por outro lado, os sujeitos é que estão a todo o momento ressignificando, colocando as estruturas em risco em suas práticas discursivas.

O que é fundamental na AD, e ignorado na ACD, é a sofisticação na definição da estrutura da língua, ou da materialidade lingüística, expressão que nos fornece uma idéia mais completa do que se trata a língua: uma estrutura opaca, atravessada pelos eventos sócio­históricos. (Luis Felipe Rosado)



Na AD, o mais importante seriam os conceitos filosóficos e a produção de sentido, e não se volta da mesma forma à transformação social, como na ACD.

O discurso é dispersão de sentidos, porque é efeito de sentido entre locutores. Não existe no discurso univocidade de sentido, assim como não existe na língua e no sujeito do inconsciente, estruturado pela língua, a completude que se espera e se busca. (Luis Felipe Rosado)

Existem grandes diferenças em ambas teorias.

Para a ACD, o processo de interpelação ideológica, tal como é descrito na AD, é muito rígido e faz com que o sujeito desapareça ao estilo estruturalista. Para Fairclough, o agente­-sujeito é uma posição intermediária, situada entre a determinação estrutural e a agência consciente. Ao mesmo tempo em que sofre uma determinação inconsciente, ele trabalha sobre as estruturas no sentido de modificá­las conscientemente, em um espaço que se afirma muito mais amplo que na AD. É como se a estrutura estivesse em constante risco material em função de práticas cotidianas de agentes conscientes. (Luis Felipe Rosado)